As bancas de concursos têm preconceito contra pessoas mais velhas?

02/10/2017 - 12h56

Foto: Morguefile - verbaska


Uma pergunta que recebo com frequência é sobre um suposto preconceito das bancas de concursos com pessoas mais velhas. Geralmente, são estudantes com mais de quarenta anos de idade que sentem um certo desânimo de continuar estudando por receio de que aquilo tudo seja em vão, pois, por mais que se preparem, a banca examinadora não deixará que sejam aprovados.

Vamos por partes.

Em primeiro lugar, não há lógica nesse pensamento se o ingresso no cargo que você deseja não envolve a realização de uma prova oral. Isso porque as provas escritas são feitas em total sigilo. As seletivas são corrigidas por computador, que não sabe quem é o candidato. As discursivas, por pessoas, mas que também não sabem de quem é a prova. Em regra, quem realiza esses concursos são instituições muito respeitadas, como a Fundação Carlos Chagas e o CESPE/CEBRASPE, que não colocariam a reputação em risco só para atender os desejos de parte da instituição que os contratou de não receber candidatos mais velhos.

Aliás, é até complicado dizer que há esse desejo. Ele era até justificável quando se aposentava com salário integral após apenas cinco anos de serviço, em idades bem novas. Nesses casos, o ideal seria contratar alguém com menos idade, que fosse onerar menos os cofres públicos. Mas, hoje em dia, isso não faz sentido, pois as mudanças na previdência dos servidores públicos já em vigor exigem um tempo bem razoável para a aposentadoria e, para quem ingressa agora, não há mais aposentadoria integral.

Vamos a alguns números. Exatamente 826 técnicos, analistas e outros servidores do Poder Judiciário e do Ministério Público responderam a uma pesquisa que fiz. Uma das indagações era sobre a idade que tinham quando foram aprovados. Alguns dados interessantes:


- 56 a 60 anos: 01 aprovado

- 51 a 55 anos: 02 aprovados

- 46 a 50 anos: 12 aprovados

- 41 a 45 anos: 32 aprovados


Veja que os aprovados com 41 anos ou mais representaram 5,69% do total. Não dá para dizer que é uma quantidade pequena ou grande, pois seria necessário ver qual foi o percentual de candidatos com 41 anos ou mais que fez esses concursos. Aí, teríamos uma noção mais exata. De toda sorte, é bem razoável imaginar que a maioria das pessoas faz o concurso logo após sair da faculdade ou, no máximo, alguns anos, depois de não ter tido sucesso na área privada. Um professor, um dentista, um advogado etc. com mais de dez anos de atividade privada geralmente já se estabilizou na profissão e não vai querer prestar concurso público. Talvez uma parte até pense nisso, mas os compromissos da vida cotidiana, incluindo família e o trabalho atual, geralmente desanimam um pouco. Sem contar que a gente tem uma tendência a se acomodar, o que diminui ainda mais o desejo de se aventurar nos estudos para concursos. Em resumo, é muito provável que seja pequena a quantidade de candidatos com mais de 40 anos de idade, por esses motivos que citei.

Em relação aos concursos que exigem prova oral, eu fiz pesquisas com juízes e promotores, mas não incluí a pergunta da idade. De toda forma, incluí perguntas sobre o estado civil e sobre filhos. No caso dos juízes, de exatos 700 entrevistados, um total de 47,14% já era casado ou um união estável, separado ou divorciado, quando foi aprovado. Cerca de 25% já tinha filhos. Isso indica que há uma quantidade razoável de aprovados que só se torna juiz após constituir família, algo que não costuma ocorrer muito cedo nos dias atuais. Pessoalmente, já conheci alguns colegas acima de 40 anos de idade aprovados em concursos da magistratura.

Em resumo, eu acho que você não deve se preocupar com a idade. Esqueça isso. Pode haver alguma banca de prova oral com preconceito contra candidatos mais velhos? Pode. Mas, duvido que isso seja a regra hoje. Minha percepção, a partir do acompanhamento de vários concursos, é que as bancas não se importam mais com essa questão da idade do candidato, concentrando-se nos seus conhecimentos.


Alexandre Henry

Professor e Juiz Federal


P.S.: caso você tenha Twitter, publico algumas coisas por lá. Perfil: https://twitter.com/henryprosa




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P.S.: confira o guia que fizemos para o curso de técnico e analista da Justiça Federal. Ele traz uma pesquisa completa com 699 aprovados. Clique aqui para acessar.


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